O dia 24 de abril costuma passar quase despercebido em Parauapebas. Com exceção de algumas poucas pessoas que sabem do significado para a história do município, a data fica mesmo no esquecimento.

O dia 24 de abril de 1988, ou seja, há 30 anos, aconteceu o referendo popular, no qual a população escolheu por ampla maioria de votos ter a sua emancipação político-administrativa.

O processo começou bem antes, mais exatamente no início de 1986, quando aconteceram as primeiras reuniões na Churrascaria do Careca, onde hoje funciona a ala carcerária do Rio Verde. Como o movimento de emancipação ganhou grande adesão popular, as reuniões foram transferidas para o Clube do Morro, na Avenida JK.

Populares diziam Sim para que Parauapebas se tornasse um município

O projeto de lei que transformaria o povoado num município independente de Marabá foi apresentado na Assembleia Legislativa pelo deputado Carlos Cavalcanti, no entanto, até chegar o dia 24 de abril, dia do plebiscito muitas dificuldades tiveram que ser superadas. Segundo Donar Luís Dalferth, o “Márcio Dalfert” um dos principais líderes do movimento, inicialmente as lideranças políticas de Marabá, município a qual pertenciam os distritos que queriam se emancipar concordaram em criar um município englobando Eldorado do Carajás, Curionópolis e Parauapebas, com limites estabelecidos da margem do Rio Vermelho à margem esquerda do Rio Parauapebas. As áreas onde hoje localizam os projetos S11D e as demais minas da serra Sul seriam de Parauapebas, enquanto as minas de Carajás permaneceriam com Marabá. “Caso a ideia tivesse prosperado teríamos ficado 30 anos sem receber um centavo de royalties de Carajás, porque o S11D só começou a ser explorado há cerca de três anos” afirmou Márcio.

Márcio Dalferth, um dos pioneiros que levantou a bandeira

Ainda segundo Márcio, por conta disso, foram apresentados três projetos de emancipação (Eldorado, Curionópolis e Parauapebas), entretanto, apenas Curionópolis e Parauapebas conseguiram se emancipar em 1988.

Milhares de pessoas participaram da campanha, entretanto, o pontapé inicial foi um requerimento assinado por 116 pioneiros, dentre os quais figuras conhecidas, como Izalton Alves, Ivo Gava, Carmelita do PT, Manoel Calixto (falecido), Evaldo Benevides (falecido) Volney Modesto, Geraldo Procópio, Ademir Paulo Dan, o “Juca”, Rafael Saldanha, Wanderley de Deus Vieira, o “Leleu”, Edileuza Lobato, Valdir Flausino, Almir Siqueira, o “Gordo da Transrodovia” (falecido), Waldemir Matos Fernandes, o “Fernando da Ótica”, José Nunes , o “Zé da papelaria” (falecido), Raimundo Pereira, o “Mudubim”, Valdir Antônio Pereira, o “Valdir da Usina”, Mozar Ferreira de Souza, Ezio Fonseca, Valentino Vaz, José Alves Santos , o “Zé da Areia”, Genesio Ferreira (falecido), Geraldo Antônio Moraes, Darci Aires “Catalão”, Faisal Salmen, Milton Ribeiro (falecido) e muitos outros.

Pioneiros como Valdir Flausino, Raimundo Pereira, Almir da Transrodovia, Zé da Papelaria, além do próprio Márcio que desde o início tomara a frente da campanha tiveram papel fundamental e pode-se dizer que sem eles o caminho seria muito difícil. A Márcio coube o papel de contactar com alguns deputados como Giovanni Queirpoz, Carlos Cavalcanti que defenderam a necessidade de emancipação na Assembleia Legislativa, além de cuidar da parte documental. Outros pioneiros como Rafael Saldanha, Geraldo Capota contribuíram com recursos.

Almir da Transrodovia cedeu gratuitamente os ônibus de sua propriedade para deslocamento dos pioneiros para Belém e Marabá, enquanto outros tiveram a atribuição de mobilizar a população. Dentre esses, cita-se Juca, Izalton, Raimundo Mudubim, Zé da Papelaria e outros.

Plebiscito – Marcado para o dia 24 de abril de 1988, o plebiscito teve total adesão da população. Foram 16.034 votos a favor, 43 votos contrários, 40 votos nulos e 49 votos em branco. Na época, Água Azul do Norte e Canaã dos Carajás, que conquistariam sua independência alguns anos depois passaram a pertencer a Parauapebas e participaram da votação do plebiscito.

Quatro dias depois, aquilo que era uma grande festa sofreu uma grave ameaça. Políticos de Marabá apresentaram documentos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) constando que o futuro município tinha um colégio eleitoral de 14 mil eleitores, enquanto o plebiscito registrara uma votação de um pouco mais de 16 mil eleitores, o que configuraria fraude eleitoral. O processo sofreu sérios riscos de ser anulado.
Naquela época a comunicação era deficiente e não havia internet, de modo que no dia 28 de abril um apressado Márcio Dalferth pegava o primeiro ônibus para Marabá, conseguindo com a juíza da comarca, Edilza Pastana uma certidão, constando que Parauapebas possuía 19.419 eleitores.

Estava pavimentado o caminho para a independência Nada mais impediria o sonho de se transformar em realidade. No dia 10 de maio daquele ano, o então governador do Estado, Hélio da Mota Gueiros homologava a lei 5.443/88, declarando Parauapebas e outros 17 municípios como municípios autônomos.

 

Reportagem – Marcel Nogueira

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