30 anos atrás, uma criança de 12 anos sofria bullying de outras crianças por conta de sua condição. O pequeno João Batista Moraes era atormentado com a zombaria dos coleguinhas porque era autista, tinha dificuldade no desenvolvimento, dificuldades na comunicação e na interação social.

Cansado dos abusos sofridos, João decidiu focar a mente no treino das artes marciais – o que mudou sua vida. Na Academia Cinturão Negro, localizada na cidade de Barcarena, João conheceu o Mestre José Guilherme Santos, professor de luta que mudou a sua vida. Especialista em kickboxing e Muay Thai, mestre José Guilherme acolheu o pequeno João Moraes. Com a paciência e a resiliência necessárias para ensinar uma criança autista, o mestre se dedicou a transmitir o seu aprendizado a João. Focado, o menino cresceu e se tornou um grande lutador.

Hoje, 30 anos depois, João Moraes é um dos maiores atletas do estado do Pará, do Brasil e do mundo na modalidade kickboxing; inclusive, só há dois atletas de artes marciais autistas no planeta: João e um lutador norte-americano.

Residente em Canaã dos Carajás, ele contou sua história em entrevista, destacou a importância do seu mestre em sua vida e afirmou que José Guilherme até hoje o treina. “Para ensinar quem é autista, é necessário paciência. Nós precisamos de mais repetições, a instrução precisa ser detalhada. E ele teve esse cuidado. Esteve aqui em Canaã me ajudando na preparação para os próximos campeonatos. Devo muito ao meu mestre.”

A paciência do mestre deu resultados. João se tornou bicampeão mundial de kickboxing nas categorias Full Contact e semi contact. Tais resultados o credenciaram para ser atleta oficial da Seleção Brasileira de Kickboxing e a ser convocado para representar o Brasil no Campeonato Sul-americano da modalidade, que será realizado na cidade de Assunção, capital do Paraguai.

O lutador canaense embarca para o certame nesta quinta-feira (10) e leva na mala a certeza de será o campeão da América do Sul. “Estou seguro do ouro” afirma com a convicção de quem sabe do próprio potencial e do quanto se dedicou aos treinamentos. “O meu coração está tranquilo, pois fiz um bom trabalho.”

Certo de que trará bons resultados para Canaã e para o Pará, João Moraes também está classificado para o Panamericano de 2023, onde vai enfrentar atletas de toda a América. A preparação continua nos próximos meses e João destaca que esse é, atualmente, seu maior sonho.

A música

Além da luta, o menino autista João Moraes buscou outra forma de ocupar e focar a própria mente e acabou descobrindo outra paixão em sua vida: a música.

João aprendeu a tocar vários instrumentos, estudou e se tornou maestro profissional. “A música aumentou meu poder de foco. Eu treino ouvindo música.”

Hoje, o maestro João leciona para crianças e jovens em Canaã. Passa adiante o que lhe foi ensinado; que a música transforma vidas, salva pessoas e constrói cidadãos melhores.

O menino autista hoje tem 42 anos, ainda sofre com alguns problemas por conta de sua condição, mas não deixa de sonhar alto, sonhar com dias melhores, com um mundo melhor. Um mundo onde crianças não precisem ser chacota por conta do que são, mas que encontrem, dentro de si, as respostas que tanto procuram.

João, o maestro-lutador, o menino autista que ganhou o mundo, já as encontrou.

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