Civaldo Rodrigues definitivamente não é um cidadão comum. Ainda que alguns o tenha como uma figura folclórica, por conta dos seus cabelos abaixo dos ombros, chapéu a lá Alçeu Valença e camisões coloridos, meio anos 70, diria que seu jeito meio blasê é uma espécie de defesa. Em outras palavras, ele só dá importância ao que realmente é importante.

Evidentemente que como todo artista, ele tem algumas manias que são só dele, mas forante isso, é uma figura carimbada e rubricada, que vale a pena conhecer.

Na semana passada o encontrei por acaso no canteiro central da Cidade Nova. Apesar da boa prosa de sempre. Civaldo está mudado. Parece que a idade da razão chegou pra ele também. Aposentou os trajes meio Hipirongas e até o chapéu que era uma espécie de assinatura, ele deixou de lado. Só restou mesmo a vasta cabeleira que ele ainda cultiva, mas… cortá-la, aí seria demais.

 

 

Civaldo é que se pode dizer rotular de filho da terra. Começou nos antigos projetos socais do município, como Pipa, Cecap e bebeu na fonte de mestres como Souza Lobbo, entretanto, não se trata de um mero copiador ou pintor de paisagens; Ao longo do tempo, desenvolveu o seu próprio estilo, que durante muito tempo foi alvo de chacotas por parte dos leigos e beócios que desconheciam os limites do talento de um artista genuinamente paroara e mais especificamente, da bucólica Rio de Águas Rasas. O tal do Eternismo era muito pra eles, e pra dizer a verdade, era muito para mim também.

Lembro-me quando estava na secretaria de Esportes e ele chegou com uns esboços debaixo do braço. Queria uma chance para expor seu trabalho. Contratei três painéis com motivos esportivos, de uma série que ele me apresentou. Encantei-me com as formas e traços geométricos que escondiam sentidos e mensagens no meio da profusão de cores. Será que aquilo era o chamado Eternismo? Até hoje não sei.

Segundo o seu relato, aquele trabalho no ginásio poliesportivo abriu uma infinidade de portas, mas não foi um favor simplesmente, Civaldo não precisava disso; na verdade há muito ele nos presenteia com sua leveza e pequenas pinceladas de inventividade.

Depois disso, ele já expôs em vários lugares, teve seus quadros comprados e mais recentemente pintou vários painéis no hall de entrada da Câmara de vereadores, mas é bom que se diga que ele já passou por poucas e boas. Já contou histórias, já cantou canções e já comeu o pão amassado pelo canhoto, mas não se corrompeu. Querendo uma boa prosa, o camarada está por aí, mas, por favor, não queiram que ele deixe de acreditar nas suas convicções, em troca de uma filosofia qualquer. Civaldo é cuca legal, mas não é alienado.

Comentários