A psicóloga Raissa Nóbrega, do Sistema Hapvida, vê como “transtorno de conduta”- não sendo prudente usar o termo psicopatia para uma pessoa com menos de 18 anos – os atos de extrema violência, como os realizado pelo adolescente de 13 anos que tirou a vida da mãe e do irmão, além de ferir o pai, recentemente, no município de Patos, na Paraíba. O estudante, que precisa de acompanhamento psicológico, justificou a ação, alegando que a família o proibiu de usar o celular para jogar Free Fire (jogo de tiro e sobrevivência) e conversar com os amigos, além de ser pressionado por notas boas na escola.

“Quando nos referimos a crianças ou adolescentes, utilizamos o termo ‘transtorno de conduta’, posto que não seria prudente falar em psicopatia, que é um transtorno de personalidade, em um sujeito que ainda está passando pelo processo de construção dela”, explica a psicóloga do Hapvida de Campina Grande (PB).

Segundo Raissa Nóbrega, estudos mostram que a nossa personalidade é formada por componentes genéticos, psicológicos e sociais. Até atingir a maior idade, ela ainda poderá passar por significativas mudanças, uma vez que nosso cérebro termina de se formar completamente por volta dos 25 anos de idade.

“Entretanto, não se pode dizer que após essa idade o ser humano não possa mudar, pois existe um processo chamado de ‘neuroplasticidade’, o qual possibilita ao cérebro estar constantemente produzindo novas conexões neurais, resultando em novos aprendizados”, destaca.

Então, acrescenta a psicóloga, crianças ou jovens que apresentam transtorno de conduta, como por exemplo apatia, falta de sensibilidade com o próximo, egocentrismo persistente, com comportamentos de mentira frequentes e manipulação em benefício próprio, e até mesmo atos cruéis como maltratar ou matar pessoas e animais, podem estar sujeitos a mudanças em seu padrão comportamental caso haja interferência de algum tratamento, como psicoterapia, medicação e ambiente familiar e social apropriado.

“É importante ressaltar que quando falamos de psicopatia, não estamos apenas nos referindo aos casos mais graves como o do serial killer, pois existe um espectro dentro desse transtorno, ou seja, várias formas mais brandas ou mais severas, em que a personalidade psicopata pode vir a se apresentar no indivíduo”, justifica a especialista.

Raissa ressalta ainda que a psicopatia é uma doença psiquiátrica. “E se a família ou a escola perceber tais sinais, é indicado que se procure um acompanhamento psicológico e psiquiátrico, a fim de se tentar traçar estratégias para conter ou minimizar tais condutas”, pontua a psicóloga.

Equipamentos eletrônicos

Para a psicóloga, diante do mundo globalizado, é preciso lidar com o fato de que os dispositivos eletrônicos como celulares, tablets, computadores e televisão fazem parte, sobretudo, da realidade dos jovens. Contudo, as crianças e os jovens ainda estão passando pelo processo de amadurecimento e de construção da sua identidade, formação dos seus valores, etc.

“Por este motivo, é importante a presença ativa dos pais para acompanhar e auxiliar nesse processo, através da educação, do estabelecimento de regras e limites, da construção dos vínculos e afetos entre os familiares. E isso inclui ter ciência de quais plataformas digitais o seu filho está utilizando e quais conteúdos ele está assistindo, para que dessa forma, possa, através do respeito, orientá-lo quanto ao tempo, local e conteúdo que possa ser acessado pelo menor”, finaliza Raissa Nóbrega.

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