Somar, subtrair, multiplicar, dividir. Entender sobre números, estudar grandezas e medidas, fazer cálculos geométricos, dominar probabilidade e estatística básica. Quem disse que esses assuntos — geralmente o “terror” de alunos do ensino fundamental — precisam ser difíceis e incompreensíveis?
Um estudante de mestrado em Computação Aplicada veio mostrar que é possível aprender tudo isso com o auxílio da tecnologia, por qualquer aluno, de qualquer lugar. Basta ter, por exemplo, um simples celular na mão.
Keny Lucas Goes, residente em Parauapebas, defendeu nesta sexta-feira (19) sua dissertação de mestrado apresentando uma tecnologia que pode melhorar significativamente os índices de aprendizagem em matemática com foco em alunos surdos.
Ele, que cursou mestrado pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina, traz a pesquisa intitulada “Math-Libras: uma plataforma web assistiva para o ensino de matemática a estudantes surdos do 6º ano”, orientada pelo professor doutor Alejandro Rafael Ramirez, da Univali.
Participaram da banca, como avaliadores do trabalho de Keny, os professores doutores André Luís Alice Raabe, da Univali; Heleno Fülber, da Universidade Federal do Pará (UFPA); e Marcelo da Silva Hounsell, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
Plataforma acessível
A proposta do trabalho, que é técnico e prático, consistiu em desenvolver um ambiente web acessível e bilíngue destinado à aprendizagem de matemática para alunos surdos. A ideia é que a plataforma seja simples, acessível e funcione adequadamente em diferentes dispositivos e navegadores, sem comprometer a usabilidade ou a qualidade da experiência do usuário.
O objetivo foi alcançado e tem potencial de chegar direta e positivamente a 369 mil alunos da educação básica que possuem deficiência auditiva, os quais representam cerca de 18% dos 2,08 milhões de estudantes brasileiros que possuem algum tipo de necessidade especial, de acordo com dados consolidados do Censo Escolar de 2024.
O Ministério da Educação (MEC), por seu turno, aponta que a matemática é vilã na educação básica, uma vez que apenas 16% dos alunos a dominam adequadamente quando chegam ao 9º ano do ensino fundamental, taxa que cai a 5% no 3º ano do ensino médio. A dificuldade de aprendizagem em matemática cai drasticamente entre estudantes surdos, que dependem da comunicação em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Testado e aprovado
Professores de matemática da rede pública de ensino de Parauapebas, no Pará, foram convidados a testar as funcionalidades do Math-Libras e aprovaram. Nove educadores — parte deles especialista em educação de surdos — responderam de forma anônima a um questionário composto por dez itens, e o resultado surpreendeu o pesquisador Keny Lucas: todos os docentes que testaram a plataforma conseguiram usá-la sem dificuldade.
Os resultados indicaram percepção positiva em relação à clareza da interface, consistência visual, facilidade de uso e adequação comunicacional, ainda que tenham sido identificados pontos de aprimoramento para versões futuras.
Segundo o autor do estudo, a principal contribuição da plataforma está em propor uma abordagem técnica acessível e replicável para o ensino de matemática com foco na acessibilidade em Libras. “A pesquisa demonstra ser possível construir soluções educacionais mais inclusivas a partir de tecnologias simples”, explica Keny Lucas, adicionando que, ainda que o projeto se configure como protótipo, os resultados obtidos e a estrutura desenvolvida oferecem condições para aplicação pedagógica futura em larga escala, a fim de oportunizar ensino e aprendizagem de qualidade aos alunos surdos.