Manuelly Soares Braz, que se identificou como mulher trans, casada há sete anos, teve sua sede de justiça saciada. Há dois anos, na portaria da Bar e Lanchonete Opção, em Parauapebas, ela foi vítima de aparente preconceito, ódio e racismo, como ela mesma contou ao Papo Carajás. A decisão judicial saiu nesta terça-feira (7) e a empresa William Marques Campos Eireli – ME vai ter que a indenizar a vítima com a quantia de R$ 5.000,00.

“O que aconteceu foi um episódio lamentável de preconceito, ódio e racismo. Foi um momento que decidi sair com minha família e aconteceu essa situação numa boate da nossa cidade. Sempre frequento outros locais e nunca fui barrada, tive meus direitos violados, fui humilhada diante de toda a sociedade pois várias pessoas estavam vendo aquele ato. Foi uma situação constrangedora, cheguei a me perguntar se eu era errada, mas a minha opção sexual não influencia e nem afeta ninguém em nada. Sempre frequento outros locais e isso nunca aconteceu, foi triste, decepcionante”, revelou Manuelly.

Com apoio do advogado Tony Araújo, ela afirmou que entrou na justiça em busca dos direitos. “Não lutei apenas por mim, mas por todas as pessoas que passam por isso diariamente em diversos locais da cidade e isso tem que acabar, temos que ser respeitadas. São direitos que já foram determinados pela justiça. Entramos em diversas audiências, algumas foram adiadas, mas nunca desistimos”, conversa Manuelly.

Manuelly afirma que no dia da discriminação, as mulheres cisgeneras  – é a condição da pessoa cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento – tinham entrada livre. “Me apresentei na portaria com a documentação, pois sou mulher também e vivo como tal, independente se tenho o órgão genital masculino. Ninguém vai tirar isso de mim. Questionei a eles se as mulheres tinham entrada gratuita, qual o motivo deles cobrarem de mim. Me falaram que eu tinha pagar, mesmo eu mostrando a certidão de nascimento retificada, começaram a me xingar dizendo que eu era prostituta. Eles me provocavam, afirmando que eu estava mentindo, que os documentos eram falsos. São pessoas despreparadas, não sabem lidar conosco”.

Manuelly afirma que depois que a equipe de segurança percebeu o erro, ofereceu a ela, familiares e amigos as entradas gratuitas.

O advogado Tony Araújo afirma que de acordo a constituição federal, todos têm direito de ser o que quiser. “Sou muito orgulhoso de representar minha cliente numa causa tão nobre como essa. O preconceito deve morrer. Nas audiências, os seguranças tentaram desmentir a causa, mas vídeos e testemunhas relataram ao contrário e o juiz aceitou a nossa alegação. Estou extremamente feliz por essa decisão, representa um novo marco aos que se sentirem ofendidos nesse quesito. Eles devem melhorar esse atendimento”, finalizou o advogado.

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