A ingestão abusiva do álcool tem avançado em grupos cada vez mais jovens de paraenses, sob a forma de um consumo habitual e marcado por altas doses, em curto período de tempo – e mais comumente aos fins de semana. Os impactos desse fenômeno para a saúde são alarmantes, aponta uma tese de doutorado recentemente divulgada pela Universidade do Estado do Pará (Uepa).

“Nossos resultados revelaram que esta forma de consumo, desde a adolescência, além de ser capaz de provocar alterações em enzimas hepáticas, provocam também danos na aprendizagem e memória, alteração na coordenação motora e equilíbrio, e elevada ansiedade persistente nos modelos experimentais na idade adulta”, conta a professora Luanna Fernandes, do Departamento de Morfologia e Ciências Fisiológicas da Universidade do Estado do Pará, responsável pela pesquisa.

O que mais a ciência tem investigado, reitera a pesquisadora, tem sido por quanto tempo essas perturbações ao funcionamento do organismo podem perdurar, mesmo cessado o consumo. “Temos algumas respostas, e os dados mais alarmantes estão associados quando o contato ao consumo do álcool inicia precocemente, ainda na adolescência”. Luanna Fernandes ressalta: “Quanto mais precoce o consumo, maior a chance do consumo abusivo e adição da droga na vida adulta, gerando também problemas sociais severos”.

Brasil é o terceiro do mundo em abuso com bebidas

O Brasil é o terceiro país que mais consome cerveja no mundo, ficando atrás somente da China dos Estados Unidos. É o que releva um estudo divulgado por uma plataforma de descontos virtuais de serviços, que reuniu dados de pesquisas do Credit Suisse e Statista.

Como vários outros estudos já apontam, o elevado consumo de álcool ocorre exatamente por ele apresentar a capacidade de alterar a percepção da realidade, favorecer mudanças no comportamento e melhorias em problemas de interação social. “A busca pela fuga da realidade é um fator preponderante associado a este aumento nos números do consumo, visto o incentivo cultural somado ao isolamento social, decorrente das medidas de saúde contra o avanço da covid-19”, lembra Luanna Fernandes.

Consumo desde cedo provoca danos na aprendizagem e memória

“Conforme divulgado em pesquisa, o Brasil é o terceiro país que lidera a venda e consumo de cerveja no mundo, a principal bebida alcoólica consumida. Assim, por possuir uma alta aceitação social, ela costuma estar presente em reuniões e encontros familiares e em momentos de lazer”, lembra a professora. Ela, que tem doutorado em Neurociências e Biologia Celular, pela Universidade Federal do Pará, tem investigado modelos experimentais relacionados aos efeitos do consumo do álcool durante a adolescência e seus impactos no organismo.

O álcool é uma droga psicotrópica. “Ou seja, consegue penetrar no organismo e alcançar o sistema nervoso central com facilidade, podendo atuar e modificar o funcionamento deste sistema”, assevera Luanna Fernandes.

Ela ressalta: esse mesmo motivo, que gera o que chamamos de reforço positivo do consumo de uma droga – as sensações de bem-estar por elas provocadas -, denota também a capacidade que ela possui de perturbação de mecanismos funcionais, em áreas cerebrais responsáveis pela nossa tomada de decisões e julgamento. Além disso, também estimula a ativação de áreas do cérebro responsáveis pela adição de drogas – ou seja, o consumo abusivo e gerar efeitos negativos, como ansiedade e depressão.

Uso de bebida alcóolica pode mascarar problemas do País

O psicólogo Janari Pedroso reforça que, culturalmente, pessoas consomem álcool por várias justificativas. Um exemplo é comemorar. Mas também o fazem por problemas emocionais e psiquiátricos. “A gente precisa entender que o País ser o terceiro no consumo de cerveja pode estar muito relacionado com esses fatores econômicos e sociais que o País atravessa. E também, de alguma forma, relacionado com até uma política de incentivo de estimulação para o consumo da cerveja”, reforçou.

Janari alertou que, quando o consumo começa a ter um comprometimento na qualidade de vida – e que, muitas vezes, por trás desse consumo há problemas psicológicos relacionados -, isso de alguma maneira serve como um alerta. Muitas vezes, afirma, o álcool ajuda no momento inicial de euforia, no sentido de que ajuda até a não pensar em determinados problemas ou ativa outros problemas com relação ao consumo.

“Quando falamos de dependência alcóolica, em que se a pessoa não beber tem abstinência, vamos ver que o álcool realmente passa a atuar de forma muito forte na vida dessas pessoas”, afirma Janari Pedroso. “E aí, com certeza, você pode estar mascarando ou vendo que tem problemas, por exemplo, de depressão, ansiedade, quadro de fobias. E, às vezes, as pessoas usam o álcool nesse sentido, até para aliviar os sintomas, sem se dar conta de que você está criando outros problemas, e até mesmo problemas físicos, orgânicos. Por exemplo, pode ter tanto no cérebro, bem como problemas hepáticos”, comentou.

Se as pessoas bebem é porque têm algum prazer: elas extravasam mais, perdem um pouco a inibição, têm um rebaixamento de consciência, de crítica. Algumas pessoas ficam mais eufóricas, outras até agressivas. “Sem dúvida nenhuma, o álcool atua nesses mecanismos e ele pode levar a pessoa a perder um pouco da crítica, da realidade, e de alguma maneira ter a sensação de não pensar sobre os problemas. De alguma maneira, alivia como um amortecedor desses conflitos”, lembra o psicólogo.

Consumo de álcool no Brasil

– Seis litros de cerveja por mês é o que o brasileiro consome em média;- R$ 46 é o gasto médio por semana com álcool;
– R$ 184 é o gasto mensal com bebidas;
– 16% do salário mínimo nacional é o custo médio desse hábito no Brasil.
– 9% dos pesquisados gastam acima de R$101 por semana.

Fonte: CupomValido.com.br

 

 

Dilson Pimentel – ORM

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