Está faltando foco em prioridades — como educação, saúde, saneamento básico e erradicação da pobreza — neste segundo mandato de Josemira Gadelha. No rico município de Canaã dos Carajás, onde o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) atesta haver 25 mil habitantes em situação de pobreza, a prefeitura acaba de dar uma nova mancada: abriu pregão eletrônico para registrar preços de camisetas personalizadas que totalizam R$ 539 mil, a ser suportado pelo Fundo Municipal de Assistência Social.
Nada ainda foi comprado, uma vez que as propostas comerciais da questionável licitação serão apreciadas no dia 10 de abril. Até lá, órgãos fiscalizadores como o Tribunal de Contas dos Municípios do Pará (TCM-PA) e o Ministério Público podem agir contra a presepada.
Os R$ 539 mil que a Prefeitura de Canaã intenciona gastar com camisetas personalizadas são suficientes para adquirir 772 cestas básicas no padrão cotado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), segundo quem a cesta básica no Pará, tomando-se Belém como referência, está em R$ 698 — mas evidentemente a cesta básica em Canaã é ainda mais salgada devido à inflação sobrecomum pela fama de “cidade onde corre dinheiro”.
Dos 25 mil habitantes canaenses em situação de pobreza, 12.600 são considerados extremamente pobres, já que sobrevivem com menos de meio salário mínimo por mês. Para essas pessoas, que se veem no aperreio de sacrificar o almoço para comer na janta, gastar R$ 549 mil com camisetas personalizadas é uma verdadeira afronta.
Camiseta para reprimir risco social?
De acordo com o governo de Josemira Gadelha, em justificativa no edital para respaldar o pregão, “a aquisição em questão tem como objetivo divulgar e propagar feitos e realizações de caráter institucionais”, tendo em vista que “as camisetas são meio de difusão para se reprimir situações de risco social”.
Não se sabe exatamente o que os subordinados da prefeita quiseram dizer, para alegar que “camisetas são meio de difusão para se reprimir situações de risco social”, mas é fato que não é comprando camisetas personalizadas que Josemira Gadelha vai combater e erradicar a situação de vulnerabilidade social a que estão relegados milhares de cidadãos de Canaã dos Carajás, sobretudo os 12.600 em situação de penúria, entre os quais 7.500 crianças paupérrimas e desamparadas pela ação do poder estatal.
Atualmente, 29 mil habitantes da Terra Prometida dependem de recursos do Bolsa Família para ter o mínimo necessário à sobrevivência. Segundo dados do MDS, este mês, a média de repasse do Bolsa Família foi de R$ 688 em Canaã, valor abaixo do da cesta básica regional calculada pelo Dieese.
Mas a Prefeitura de Canaã é bilionária. Com os recursos que irrigam as contas públicas, Josemira — considerada uma gestora diferenciada e atenta às causas e ao clamor dos mais pobres — poderia fazer emanar pão, leite e mel a cada cidadão canaense. Como revelado pelo portal Papo Carajás, as prioridades, no entanto, são materiais gráfico (veja aqui https://papocarajas.com/governo-josemira-quer-torrar-quase-r-4-milhoes-em-organizacao-de-festival-gastronomico/) e camisetas personalizadas. E assim, em Canaã, o pobre cada vez fica mais pobre.