Na bilionária Canaã dos Carajás, município onde a população mais cresce no Brasil há dois censos demográficos consecutivos, dos cerca de 90 mil habitantes, apenas 60,33% recebem água encanada regularmente e somente 35,29% são servidos com esgotamento sanitário.
E não, não é invenção do Papo Carajás. Os dados estão escancarados no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, e revelam que a falta de saneamento básico adequado é a causa do adoecimento de muitos cidadãos da Terra Prometida.
Em 2024, de acordo com o Ministério da Saúde, 119 cidadãos de Canaã foram internados por alguma das chamadas “doenças do saneamento”, que nada mais são que doenças diarreicas, como cólera, shiguelose, amebíase, infecções por salmonella, infecções intestinais bacterianas, doenças intestinais por protozoários, infecções intestinais virais, diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível.
Parece mentira, mas muito mais gente foi internada na Terra Prometida por essas enfermidades do que em Marabá, onde o Ministério da Saúde contabilizou, de janeiro a dezembro do ano passado, somente 55 registros de morbidade hospitalar. Além disso, o número de internações de 2024 comparadas às 33 de 2023 deu um salto olímpico de 260% em Canaã, um absurdo.
Agora pasme: no ano passado, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Canaã dos Carajás torrou absurdos R$ 229,87 milhões, uma gastança que não justifica o serviço prestado. Primeiro, o orçamento inicial do Saae em 2024 foi de R$ 74,25 milhões, mas ao longo do ano foi inflado para R$ 231,92 milhões. Para se ter ideia, a farra da gastança da autarquia no ano passado, a pretexto de ofertar saneamento na Terra Prometida, foi superior à arrecadação do ano inteiro da vizinha Curionópolis, cuja receita líquida totalizou aproximadamente R$ 220 milhões.
No ano de 2023, o Saae consumiu R$ 191,19 milhões, mas mesmo com o aumento dos gastos em “água” e “esgoto” de um ano para outro, a população local continua sem a universalização do serviço e as doenças subsaarianas proliferam como nunca.
53% do orçamento já foi em 2025
Este ano, nada de novo no reino de Josemira Gadelha, uma das prefeitas mais bem avaliadas do Pará, mas que não receberia o mesmo conceito se a Canaã dos Carajás que ela cuida fosse analisada sob a perspectiva do saneamento básico,
Na terra que parece ter sido prometida às viroses e às doenças intestinais, o Saae foi, no primeiro trimestre de 2025, o campeão da gastança, de acordo com dados do portal da transparência local: a autarquia já empenhou 53,55% do orçamento autorizado para este ano, o percentual mais alto entre todos os órgãos e entidades da administração municipal (veja aqui https://governotransparente.com.br/transparencia/44099486/consulta/consolidada?inicio=01%2F01%2F2025&fim=31%2F03%2F2025&agrup=12&ano=9&clean=false&datainfo=MTIwMjUwNDA0MDAxN1BQUA%3D%3D&unid=-1&prog=-1&cat=-1&org=-1&proj=-1&func=-1&nat=-1&elem=-1).
Dos R$ 167,25 milhões efetivamente autorizados, Josemira já deu aval ao Saae para empenhar R$ 89,57 milhões, dos quais R$ 17,17 milhões já foram pagos. Se continuar a empenhar nessa ganância, o Saae fecha o ano com R$ 360 milhões para pagar.
Mas e o retorno disso à população? O impacto é desconhecido, e a julgar pelo histórico de internações hospitalares por diarreias e infecções intestinais, Canaã está na fossa. A dinheirama não tem sido utilizada corretamente para garantir saneamento básico adequado e eficiente à população canaense.
Enquanto isso, Josemira vai fingindo que está tudo mil maravilhas, e a população vai fingindo que acredita, mas sofrendo na pele dramas como fome e pestes. Resta saber até quando essa mesma população vai se conter em se rebelar e partir para a guerra contra o desmantelo da administração.