Canaã dos Carajás segue crescendo, como um adolescente que estica demais as pernas e ainda não aprendeu a lidar com o tamanho novo. A prefeita Josemira Gadelha, entusiasmada, anunciou durante a FENECAN a construção do primeiro shopping center da cidade — um símbolo de progresso, consumo e, por que não, de status. É bonito ver uma cidade sonhar alto. Mas, convenhamos, de que adianta levantar colunas de concreto se a base ainda treme por falta de água e luz?
O povo canaense sabe bem: as quedas de energia são quase tão frequentes quanto os discursos oficiais. A Equatorial Pará sempre tem uma nota explicando o “imprevisto técnico”, e a Funcel, aquela pasta traquina comandada por Taís Leite, que já mandou pelo ralo milhões e milhões, parece ter o dom de gastar com o que ninguém vê, enquanto o essencial segue faltando.
No meio disso tudo, a gestão Josemira segue silenciosa, quase poética em sua cegueira seletiva. Enquanto o povo tenta manter o ventilador ligado e o chuveiro funcionando, a prefeita vai compactando alianças políticas e construindo, tijolo por tijolo, o projeto de poder doméstico: eleger o marido, Eugênio Gadelha, deputado estadual em 2026.
Josemira aprendeu rápido o manual da política regional. Aqui, não basta carisma nem boas ideias — o que conta é o tamanho do cofre, a lista de aliados e o número de tapinhas nas costas distribuídos em ano pré-eleitoral. E assim, o cenário se repete: promessas embaladas em sorriso, muito dinheiro circulando e um candidato que, convenhamos, é mais sem tempero que picolé de chuchu.
Mas Canaã merece mais que um shopping e menos que um espetáculo. Merece luz constante, água nas torneiras, transparência nas contas e respeito no olhar. Enquanto isso não chega, o povo observa — com um olho no futuro e outro na conta de energia — tentando entender se o brilho que vem lá da FENECAN é de progresso… ou só reflexo das luzes de vitrine.