O vereador de Belém Joaquim Campos (Podemos) chamou a jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de São Paulo, de vagabunda, no plenário da Câmara Municipal, durante a sessão desta quarta-feira (19). Entidades que representam jornalistas, o partido de Joaquim, outros vereadores e até o governador Helder Barbalho (MDB) reagiram às declarações do parlamentar. “Como pai, esposo e filho, fico chocado ao ver ataques como o do vereador Joaquim Campos (PODEMOS) à jornalista Patrícia Campos Mello, principalmente por vir de um profissional de comunicação”, escreveu Helder, nas redes sociais. “As diferenças de ideias devem ser tratadas sempre dentro dos limites da civilização e do respeito com a sociedade. Repudio totalmente este tipo de comportamento político”, disse o governador, em outro post. As discussões, na Câmara, começaram durante pronunciamento do vereador Toré Lima (Republicanos) que, da tribuna, criticou o presidente Jair Bolsonaro pelas expressões de cunho sexual que ele utilizou ao se referir à jornalista. Um dia antes, em tom jocoso, o presidente afirmou que Patrícia “queria dar um furo a qualquer preço” contra ele. Joaquim reagiu às críticas de Toré usando palavras ofensivas à Patrícia, e outros vereadores entraram na discussão.

Procurado por O Liberal, Joaquim Campos disse não lembrar de ter chamado a jornalista de vagabunda, que tudo está registrado e que assume o que tiver dito. “Era tão acalorada a discussão, que posso até ter falado”. Segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro também foi atacado pelos vereadores. “Quando o presidente da esquerda disse que as mulheres do Nordeste tinham o órgão genital duro, ninguém falou nada. O vereador (Fernando Carneiro), se dirigiu ao Bolsonaro chamando ele de ladrão, parecia que estava se referindo ao governo do Lula. Nesta hora, estava um clima acalorado. Ele se dirigiu à presidente (Simone Kahwage) de forma grosseira também”.

Pelas redes sociais, Joaquim disse que sua opinião pessoal independe de classe social, partido politico ou empresa a qual trabalha. “Como também não concordo que trocar informações por sexo seja JORNALISMO. Essa é minha opinião, independente de qual seja a sua!”, publicou.

As declarações de Campos e Bolsonaro se referem ao depoimento de Hans River, ex-funcionário de agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, que afirmou que a jornalista se insinuou sexualmente a ele para obter informações. “Você acompanhou a CPI das Fake News? Ele deixa bem claro que ela teria sugerido sexo para conseguir o furo de reportagem”, disse Joaquim, ao ser procurado pela reportagem. Patrícia e a própria Folha de São Paulo desmentiram as acusações de Hans, divulgando o histórico de mensagens entre os dois, mostrando que foi ele quem tentou desviar o foco do diálogo e a convidou para assistir a um show, mas ela ignorou o convite.

Em nota, o Podemos prestou solidariedade a jornalista da Folha de São Paulo e à vereadora de Belém Nazaré Lima, que também teria sido atacada pelo vereador Joaquim Campos durante a sessão na Câmara. O partido informou ainda que a Direção Estadual, por unanimidade, encaminhou pelo acionamento do referido vereador no conselho de ética, iniciando assim, o processo de expulsão. “Nascemos como partido sustentado por ideais democráticos. Atitudes como essa não serão toleradas, o Podemos é defensor intransigente do respeito e dos direitos”, diz a nota.

O Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor/PA) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj/PA) repudiaram a falta de decoro do vereador Joaquim Campos e, em nota, exigiram que o presidente da Câmara, vereador Mauro Freitas (PSDC), a presidência do MDB em Belém e no Pará tome providências quanto ao comportamento do vereador. As entidades disseram que também vão estudar quais medidas jurídicas podem ser tomadas em relação ao fato.

CÂMARA

Por meio de nota, a Câmara Municipal de Belém diz que, conforme prevê a Constituição no Art. 29/ VIII, os vereadores que compõem o poder legislativo têm como prerrogativa a imunidade parlamentar para expor suas ideias, além de livre direito de manifestação perante qualquer tema. “A Câmara afirma ainda que a opinião ou discurso pessoal de um vereador não representa o pensamento plural da casa e que cabe a cada parlamentar o discernimento, assim como a responsabilidade pelos atos praticados”.

 

 

 

Fonte: O Liberal/ Keila Ferreira / Redação Integrada/ Foto: Oswaldo Forte 

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