Desde 2010, a frequência de assaltos a banco no estilo “novo cangaço” ou “vapor” aumentou no Pará. Quadrilhas começaram a se especializar e organizar estratégias para esse tipo de crime, que cria um clima de terror nas cidades onde ocorrem. O interior do estado e áreas litorâneas são alvos preferenciais: distâncias longas, dificuldade de acesso e comunicação, inúmeras rotas de fuga e menos policiamento. O mais novo caso deste ano ocorreu em Rondon do Pará, na madrugada desta sexta-feira (11).

Os apelidos para os assaltos a bancos em grande escala e com ações coordenadas, vêm de uma comparação com os crimes cometidos pelos cangaceiros de Lampião, na década de 1920. Os criminosos faziam ataques simultâneos nos locais onde queriam roubar e contra as estruturas das polícias. Usam explosivos, fazem muitos disparos e fazem reféns. Assim, impediam qualquer tentativa de repressão e diminuíam a possibilidade de testemunhas. O outro nome, vapor, é porque tudo acontece muito rápido. Os criminosos vêm e vão com muita agilidade. E só a fumaça das explosões fica para trás.

De janeiro a dezembro do ano passado, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) registrou 21 assaltos a banco nessa modalidade. Cerca de 40% a mais do que em 2017. Já o Sindicato dos Bancários diz que em 2018 foram 44 assaltos, mas o órgão estadual não analisou esse dado como oficial.

Os assaltantes costumam escolher locais onde o policiamento é mais fraco e onde as agências são mais vulneráveis, explica o delegado de Polícia Civil Tiago Belieny. No entanto, é onde há menos dinheiro nos caixas eletrônicos. Os bandidos fazem muita pesquisa antes de um ataque. Sabem horários de trocas de turnos, dias de pagamentos de servidores públicos, datas de abastecimento dos caixas…

Muitos dos criminosos que se dedicam a essa modalidade de crimes, observa, costumam migrar de regiões e fazer “intercâmbios” de bandos. Tudo com o intuito de dificultar as investigações e de traçar elos entre os criminosos quando alguém é preso. O delegado aponta que, geralmente, cada quadrilha possui especialistas em diversas funções: motoristas, atiradores, técnicos em explosivos, técnicos em ferramentas de corte e quaisquer outras pessoas com habilidades que julgarem necessárias.

Só em 2014, 85 pessoas foram presas por esse tipo de crime. Nos últimos oito anos, mais de dez quadrilhas foram desarticuladas. Novas surgiram, com outros criminosos e novas táticas, exigindo constante atualização de policiais para combater os “novos cangaceiros”.

Por conta desse foco nas agências bancárias do interior, desde 2013, praticamente todos os bancos reduziram a quantidade de dinheiro disponível nos caixas eletrônicos. Novamente, prejuízo aos clientes, que em situações mais específicas, podem ficar sem acesso ao dinheiro ou ter de se deslocar para áreas mais distantes.

Em média, cada caixa eletrônico é abastecido com R$ 100 mil, com variações de modelos e bancos. Nos interiores, a partir de 2013, o volume de dinheiro foi reduzido em 70%. Ao final de um dia, às vezes sobra menos de R$ 10 mil. É por valores como esse que organizações criminosas montam um planejamento logístico e estratégico cercado de outros crimes, como tráfico de armas, porte ilegal de armas e munições de uso restrito, roubo de explosivos, uso de explosivos, roubo de veículos, cárcere privado, tentativa de homicídio…

Belieny explica que os explosivos, quase sempre, são furtados ou roubados de mineradoras, empreiteiras e pedreiras. Somente essas empresas podem adquirir esses produtos, que são controlados pelo Exército. A maioria dos explosivos irregulares vem de Goiás. Mas diferente de munições de armas de fogo, explosivos não possuem formas de rastreio de origem. Isso é algo que as indústrias têm sido pressionadas a mudar diante do aumento de assaltos a bancos com explosões em todo o Brasil.

 

 

Fonte: ORM

 

 

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