A chance de rebaixamento bicolor na Série B é de apenas 3,4%. Uma porcentagem razoavelmente baixa, que seria capaz de fazer a Fiel respirar aliviada. O problema é que futebol não se resume à estatísticas e projeções. Pelo o que o Paysandu demonstra dentro de campo, esse número, divulgado pelo site Chance de Gol, não condiz com a realidade. Esta, para desespero do torcedor, é mais cruel e leva em consideração apenas o que os olhos veem: a oscilação de um time que precisa firmar o pé nesta reta final se não quiser voltar à Terceirona, mas que esbarra em inúmeras deficiências de ordem técnica e coletiva.

Apesar disso, pessoalmente, não acredito em rebaixamento. Há equipes bem piores e em situação mais crítica na tabela. Fora que uma análise da classificação já mostra, caso milagre em contrário, metade do descenso definido, com Náutico e ABC sem escapatória. O Santa Cruz é sério candidato a outra “vaga”, mas ainda tem alguns confrontos diretos pela frente e pode dar uma guinada salvadora. Hoje, o outro rebaixado seria o Luverdense, embora a pontuação do time mato-grossense o permita lutar até o fim pela permanência contra Paysandu, Guarani, CRB e Figueirense.

Pedir que o time bicolor se acerte em campo faltando sete jogos para o fim do campeonato é se iludir. Falta comando e falta qualidade. Os últimos resultados positivos conquistados foram muito mais um golpe de sorte ou fragilidade/falha do adversário do que propriamente mérito do Papão. E o pior disso tudo é que, individualmente, existem bons valores na Curuzu. Emerson, Perema, Diego Ivo, Guilherme Santos, Rodrigo Andrade e Bergson, formariam uma espinha dorsal de respeito, prejudicada pela ausência de um armador, um camisa 10 de verdade, que fizesse o time evoluir, além de não contar com um padrão de jogo. Não há coletivo, há um bando em campo. Sendo assim, é torcer para que esses lampejos continuem ocorrendo.

O técnico Marquinhos Santos já pode ser considerado um tiro no pé da diretoria. Não demonstrou até aqui absolutamente nada que o recomende à frente do elenco. E não há tempo para substituições agora, a não ser que Rogerinho, pela milésima vez, assumisse o barco, já que conhece o elenco. Mas a situação não é calamitosa a esse ponto e uma troca poderia também causar efeito contrário ao esperado, com uma desestabilização. Melhor deixar Marquinhos terminar a temporada do que jogar a batata quente nas mãos do Gameleira. Se daqui a três rodadas o Paysandu conseguir a proeza de se ver realmente ameaçado, aí esse tema pode voltar à tona, pois requereria medidas extremas.

Convém ressaltar, contudo, que tudo de bom que o Paysandu tem feito fora do gramado, administrativamente falando, não pode ser usado como comparação de forma a dar holofotes só à incompetência no futebol, colocando tudo no mesmo balaio. Se a diretoria acerta por um lado e erra no outro, isso é algo para se trabalhar e achar um equilíbrio e não jogar tudo para o alto, como querem os torcedores mais exaltados (“Dane-se sócio bicolor, dane-se hotel, dane-se CT. Eu quero é futebol”), num pensamento ultrapassado e imediatista – que, inclusive, sempre foi objeto de criticas quando levado a cabo pelos dirigentes.

Esse embate entre racionalidade x paixão ainda promete novos capítulos em 2018, ainda mais se os erros desta temporada não forem assimilados. Mas essa é uma discussão para mais tarde. O que o torcedor quer mesmo, agora, é que a novela deste ano acabe, num final feliz que não é o esperado, mas o possível. A matemática é uma aliada, falta só o time colaborar um pouquinho e resolver logo a sua situação nas próximas rodadas, sem estender o sofrimento, o que, caso aconteça, pode ser fatal e, aí sim, comprometer bastante todo o projeto de longo prazo bicolor.

(Carlos Eduardo Vilaça)

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