Em meio a muita revolta e tristeza, familiares da jovem Lenilda Cavalcante Andrade, de 36 anos, falaram ao Portal Papo Carajás sobre a trajetória da técnica em planejamento ainda quando viva. Ela foi uma das vítimas fatais de uma das maiores tragédias ocorridas no Brasil, registrada em 25 de janeiro de 2019 em Brumadinho (MG), quando uma barragem de rejeitos se rompeu, matando 270 pessoas (11 ainda estão desaparecidas). Uma parte da família já está se deslocando para Minas Gerais, onde participará amanhã (25) de uma grande homenagem as vítimas, relembrando 1 ano da tragédia.

A mãe de Lenilda Cavalcante, Ivone Cavalcante, definiu a filha como companheira, primeira filha que a ajudou a cuidar dos outros filhos, era muito companheira, que se preocupava com ela e era uma pessoa amiga. “Tinha hora que me sentia filha, tinha hora que me sentia mãe. Tínhamos um relacionamento muito aberto, uma amizade boa, falar dela é falar de tudo de bom, alegria, motivação, bondade, cumplicidade, exemplo de mulher, exemplo de guerreira, de mãe. Falar da Lenilda é fácil, pois ela se encaixa em tudo o que há de melhor, era uma filha que toda mãe merecia ter. Quem teve uma filha como ela, tem motivo de grande alegria, minha filha era tudo de mim, conseguia deixar meus fardos mais suaves. Falar dela é falar de saudade”, enfatizou.

Ivone ainda revelou que após o dia 25 de janeiro de 2019, tudo ficou mais difícil. “Agora só falamos de dor, ausência, tristeza, indignação com uma empresa que não cuidou da vida da minha filha. Era uma sonhadora, que batalhava, ia direto do trabalho para a faculdade. Sonhava com um futuro melhor para o filho, e o que mais me deixava feliz era que eu e o pai dela sempre participávamos dos sonhos dela, o que ela mais queria era ver a gente feliz, nos ver bem. É muita dor, muita revolta, não é fácil falar dela. Ver que as pessoas que foram responsáveis pela morte da minha filha e de tantos outros estão aí, não foram punidas, mas Deus sabe que não é assim, Deus sabe que a Vale tem toda a culpa. Ela precisa ser punida, uma empresa que assassina os próprios funcionários, não é justo isso. Eu a vi muitas vezes defendendo essa empresa, e fico muito indignada de ver que ela foi traída e assassinada pela Vale”.

Victor Emanuel, filho de Lenilda, jovem de apenas 18 anos de idade, também demonstrou saudade ao relembrar da mãe. “Perdido, é uma palavra que descreve bem como me sinto desde o dia 25 de janeiro de 2019. Inicialmente foi desolador, minha zona de conforto foi destruída. Eu não conseguia confiar em ninguém e minhas noites eram longas, turbulentas e tristes. Felizmente, a intensidade da vida de minha mãe me inspira todos os dias a tentar ser feliz, pois é exatamente o que ela iria querer para mim. Mas nada disso diminui a saudade dos seus abraços, sorrisos e conselhos. Ela tinha sonhos, desejos e vontades. Me entristece saber que ela não vai poder realizá-los”, lamenta o jovem.

Rafaela Andrade, irmã de Lenilda, também deu seu depoimento. “Falar dela é muito difícil, pois sempre foi muito intensa em tudo, só tenho que agradecer pelos momentos únicos que vivemos juntas e por me dar oportunidade de retribuir o amor dado para Pitoko, era assim que ela a chamava (nossa Karol). Minha Nida, tentaram te enterrar, mas sua semente foi plantada e seguiremos firme nessa luta”, finalizou.

Os depoentes e outros familiares estarão presentes nas homenagens aos mortos na grande tragédia de Brumadinho (MG). Várias cerimônias estão previstas para esse final de semana, na pequena cidade que ficou impactada pelo triste acontecimento.

 

Comentários