Neste momento estou em frente ao PC para alinhavar algumas linhas pro Luís. Não esperava ser tão difícil. Não que as palavras não me venham, ao contrário, me vem aos borbotões, entretanto, são expressões menores diante da imensa grandeza deste, que sem dúvida, foi um dos maiores expoentes do nosso jornalismo.

Mesmo correndo risco de o texto ser verborrágico por demais e mesmo que a tristeza e a saudade precoce já deem o ar da graça, sigo em frente tentando rememorar algum dia do mês de setembro de 1998, quando eu e o Flávio Sacramento embarcamos num projeto de jornal com periodicidade definida e voltado para as coisas de Parauapebas e região. No canto de uma pequena sala na Rua Tiradentes, próxima ao antigo Hospital do Dr. Bento, dois jovens vicejando a alegria própria da juventude. Eram Luís Bezerra que não época tinha pouco mais de 20 anos e Raquel Gomes, que durante anos foi nossa secretária.

Não foi um caso de alguém que foi aprendendo aos poucos; diante de nós surgia um repórter pronto, que não se contentava com o trivial, com um texto água com açúcar e pobre em informações. Obstinado, ia atrás da notícia, checava informações e de repente aparecia com uma matéria de encher os olhos. Naqueles tempos não havia TV local e muito menos internet, de modo que o jornal impresso era uma dos principais veículos de comunicação e nesse ambiente de inicio do século se revelou o talento, a ousadia e a intensidade de um jornalista talentoso e polêmico (como tem que ser), além de um ser humano na acepção da palavra.

A convivência e a amizade foram forjadas assim, nas longas noites de fechamento de edição regadas a hamburger’s tamanho família e refrigerantes. Diante de incontáveis garrafas de coca-cola, as matérias iam sendo diagramadas nas páginas, enquanto o ambiente típico de redação era aquecido por amenidades.

Numa cidade tão afeita ao puxa-saquismo, Luís nunca foi de agradar a qualquer custo, nunca quis ocultar eventuais defeitos próprios do ser humano, ao contrário, se lixava para a patrulha dos politicamente corretos. Não lhe cobrassem um comportamento exemplar, daqueles constantes no manual. Luís nunca foi disso.

Eclético e irrequieto aventurou-se por muitos caminhos, fez política partidária, desenvolveu projetos na área de cultura e era reverenciado no mundo do samba. Nos ensaios das escolas de samba era possível vê-lo rodeado de amigos, a contar “causos” e anedotas (algumas impublicáveis). Suas noitadas varavam a madrugada e não raramente viam o sol nascer. As duas únicas certezas que tinha na vida é que amava o jornalismo e viveria para ele até o último dia e a segunda é que apesar das idas e vindas ele sempre voltaria para os braços cheios de perdão de Jaqueline, seu verdadeiro amor.

Assim, sem se importar muito com o dia da manhã ele vivia intensamente, encharcado de vida, cheio de amigos e muitos filhos. Quando alguém alertava para o consumo exagerado da bebida e do cigarro ele prometia sem muita convicção que iria se cuidar. No fundo, já se sabia que essas promessas dificilmente seriam cumpridas.

Pois é, na manhã do dia 30 de abril, o guerreiro dormiu pela última vez e se foi. Não sem antes abrir uma lacuna no coração de todos; não sem antes dizer que a vida é apenas uma chama e que valia a pena ser vivida.

Na comoção do feriado de 1º de maio, restou a saudade de uma figura maravilhosa, que amava a terrinha como poucos e que era amigo dos amigos. O velório no CDC, algo que não é usual ficou bem à sua cara, já que era um homem ligado a cultura e a música.

Espero sinceramente que a Câmara, que lhe negou o espaço para o velório consiga se redimir, homenageando-o com nome de rua, de praça de alguma coisa que o valha. Seria apenas justiça.

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